segunda-feira, 20 de junho de 2022

Variações Mendelianas

 Variações Mendelianas de Herança:

O modelo básico de Mendel

Os princípios básicos do modelo de herança de Gregor Mendel mantiveram-se por mais de um século. Eles podem explicar como muitas características diferentes são herdadas em diversos organismos, incluindo os seres humanos.Alguns dos conceitos fundamentais do modelo original de Mendel foram:

1 Traços hereditários são determinados por fatores hereditários, hoje chamados de genes. Os genes vêm em pares (ou seja, eles estão presentes em duas cópias em um organismo).

2.      Os genes possuem diferentes versões, chamadas hoje de alelos. Quando um organismo tem dois alelos diferentes de um gene, um (o alelo dominante) irá esconder a presença do outro (o alelo recessivo) e determinar a aparência.

3.      Durante a produção de gametas, cada óvulo ou espermatozoide recebe apenas uma das duas cópias do gene presentes no organismo e a cópia alocada em cada gameta é aleatória (lei da segregação).

4.      Os genes para os diferentes traços são herdados independentemente um do outro (lei da variação independente).

Essas regras ainda são a base do nosso entendimento sobre herança genética — ou seja, como os traços são passados para a próxima geração e como o genótipo (grupo de alelos) de um organismo determina seu fenótipo (características observáveis). Contudo, hoje sabemos que existem exceções, extensões e variações que devem ser adicionadas ao modelo para que se possa explicar de forma completa os padrões de herança que vemos ao nosso redor .

Variações envolvendo genes únicos

Algumas das variações nas regras de Mendel envolvem os genes únicos. Estas são:

·  Alelos múltiplos. Mendel estudou apenas dois alelos dos genes de suas ervilhas, mas populações reais muitas vezes têm alelos múltiplos de determinado gene.

·  Dominância incompleta. Dois alelos podem produzir um fenótipo intermediário quando ambos estão presentes, em vez de haver um que determine o fenótipo completamente.

· Codominância. Dois alelos podem ser simultaneamente expressos quando ambos estão presentes, ao invés de apenas um determinar completamente o fenótipo.

· Pleiotropia. Alguns genes afetam muitas características diferentes, e não apenas uma única característica.

·  Alelos letais. Alguns genes têm alelos que impedem a sobrevivência em organismos homozigotos ou heterozigotos.

·  Herança ligada ao sexo. Os genes carregados pelos cromossomos sexuais, como o cromossomo X em seres humanos, apresentam padrões de herança diferentes dos genes em cromossomos autossômicos (não sexuais).

Variações envolvendo genes múltiplos

Outras variações das regras de Mendel tratam das interações entre pares (ou, possivelmente, entre quantidades maiores) de genes. Muitas características são controladas por mais de um gene, e quando dois genes afetam o mesmo processo, eles podem interagir entre si em uma variedade de formas diferentes, Por exemplo:

·   Genes complementares. Alelos recessivos de dois genes diferentes podem produzir o mesmo fenótipo.

·    Epistasia. Os alelos de um gene podem mascarar ou ocultar os alelos de outro gene.

Além disso, alguns pares de genes encontram-se próximos um do outro no cromossomo e são ligados geneticamente, ou seja, não variam independentemente.

Herança poligênica e efeitos ambientais

Muitas características importantes em nossas vidas cotidianas, como altura, cor da pele, cor dos olhos e risco de doenças como diabetes, são controladas por muitos fatores. Esses fatores podem ser genéticos, ambientais ou ambos.

·   Herança poligênica. Algumas características são poligênicas, ou seja, são controladas por vários genes diferentes. Na herança poligênica, os traços muitas vezes formam um espectro fenotípico, em vez de formarem categorias distintas.

·   Efeitos ambientais. A maioria das características reais é determinada não apenas pelo genótipo, mas também por fatores ambientais que influenciam como o genótipo é traduzido em fenótipo.

O histórico genético e o ambiente contribuem para a penetrância incompleta, na qual nem todos os indivíduos com um genótipo apresentam o fenótipo correspondente, e a expressividade variável, na qual os indivíduos de determinado genótipo podem ter versões mais fortes ou fracas do fenótipo.


ALELOS MÚLTIPLOS OU POLIALELIA

Alelos múltiplos ou polialelia é o fenômeno em que um gene possui mais de duas formas alélicas.

O sistema ABO é um caso de alelos múltiplos

Ao estudar as características das ervilhas analisadas por Mendel, observamos a presença de apenas dois alelos para uma determinada característica. Apesar de muitos caracteres presentes na natureza apresentarem apenas dois alelos, comumente genes apresentam mais de duas formas alélicas (polialelia ou alelos múltiplos).

 

→ O que são alelos múltiplos ou polialelia?

Polialelia, ou alelos múltiplos, é o nome dado ao fenômeno em que os genes possuem mais de duas formas alélicas, ou seja, uma mesma característica pode ser determinada por três ou mais alelos (formas alternativas de um gene).

 

→ O sistema ABO, um exemplo de polialelia

O exemplo de polialelia mais conhecido são os diferentes grupos sanguíneos. Como todos sabem, existem na nossa espécie indivíduos que possuem sangue A, sangue B, sangue AB e sangue O.

Os tipos sanguíneos são determinados por três alelos diferentes para um único gene: IA, IB e i. O alelo Ié responsável pela presença do antígeno A na hemácia; o alelo Ié responsável pela presença do antígeno B, e o alelo i é responsável pela ausência desse antígeno. Os alelos Ie IB exercem dominância sobre o alelo i, mas entre IA e IB existe um caso de codominância.

Os três alelos existentes nos grupos sanguíneos permitem a existência de seis diferentes genótipos para os quatro fenótipos encontrados na população. Veja abaixo os genótipos e fenótipos dos grupos sanguíneos:

IAIA, IAi – Sangue A

IBIB, IBi – Sangue B

IAIB – Sangue AB

ii – Sangue O

 

→ Polialelia em coelhos

Outro caso comum de polialelia é observado em coelhos, pois há diferentes genótipos para determinar a cor do pelo. Em coelhos, é possível observar quatro cores diferentes de pelo: o aguti, chinchila, himalaia e albino.

 

O coelho aguti ou selvagem apresenta pelagem marrom ou cinza escuro. O chinchila, por sua vez, apresenta pelo cinza prateado. Já o himalaia apresenta pelos brancos e algumas regiões escuras, como patas e focinho. Por fim o albino é completamente branco.

Toda essa diferente cor de pelagem é determinada por quatro alelos diferentes: C, cch, ch e ca. Nesse caso, existe a seguinte relação de dominância: Aguti (C) exerce dominância sobre chinchila, himalaia e albino; chinchila (cch) exerce dominância sobre himalaia e albino; himalaia (ch) exerce dominância sobre albino; albino ( ca) é recessivo, ou seja, só se expressa aos pares. Sendo assim, os genótipos para os diferentes tipos de coelho são:

 

CC, Ccch, Cch, Cca – Aguti ou selvagem

cchcch, cchch, cchca – Chinchila

chch, chca – Himalaia

caca – Albino

 

 

Dominância completa, incompleta e codominância

Dominância completa, incompleta e codominância são relações distintas que dizem respeito ao grau de expressão dos alelos.


O albinismo é um caso de dominância completa


Quando falamos em dominância e recessividade, logo nos lembramos de situações em que um alelo domina em relação a outro, expressando-se mesmo quando em heterozigose. Entretanto, nem sempre a dominância ocorre dessa forma. A seguir, vamos diferenciar a dominância completa, a dominância incompleta e a codominância.

 

→ Dominância completa

A dominância completa é aquela mais simples, em que um alelo suprime a manifestação de outro quando em heterozigose. Isso faz com que o fenótipo de um indivíduo em heterozigose seja igual ao fenótipo de um indivíduo homozigoto dominante.

O exemplo mais clássico de dominância é o albinismo, uma desordem genética em que se observa um defeito na produção de melanina, pigmento responsável pela cor da pele e dos pelos. O alelo A determina a produção de melanina, e o alelo a define a sua não produção. Indivíduos Aa produzem melanina, assim como indivíduos AA. Somente indivíduos aa não produzem melanina, sendo, portanto, albinos.

 

→ Dominância incompleta

Na dominância incompleta, os alelos expressam-se em heterozigose, porém o fenótipo produzido é intermediário, uma vez que nenhum é completamente dominante. Enquanto na dominância completa o fenótipo é igual ao do homozigoto dominante, na dominância incompleta, expressa-se um fenótipo completamente distinto dos homozigotos.

Na planta conhecida como boca de leão, por exemplo, o alelo B determina a cor vermelha, e o b determina a cor branca. Os indivíduos BB são vermelhos e os indivíduos bb são brancos. Em organismos Bb, no entanto, não temos indivíduos vermelhos, e sim indivíduos de coloração rosa, com menos pigmento que os homozigotos dominantes.

 

→ Codominância

A codominância ocorre quando os dois alelos expressam-se em heterozigose e, diferentemente da dominância incompleta, não é formado um fenótipo intermediário. Nesse caso, o fenótipo apresenta características dos dois alelos, que estão ativos e independem um do outro.

O exemplo mais conhecido de codominância é o sistema ABO, que apresenta três alelos envolvidos (IA, IB e i). Existe uma relação de dominância entre os alelos IA e i, e IB e i, entretanto, entre Ie IB essa relação não é observada. Os genótipos IAi e IAIA determinam o sangue A, os genótipos IBi e IBIB determinam sangue B, e o ii determina o sangue O. Quando o indivíduo apresenta sangue IAIB, o sangue é AB, pois os dois alelos expressam-se, não existindo relação de dominância entre eles.


Penetrância e expressividade

A penetrância é a frequência em que o gene é expresso. É definida como a porcentagem de pessoas com o gene e que desenvolvem o fenótipo correspondente (Professional.Fig. # Penetrância e expressividade). Um gene com penetrância incompleta (baixa) pode não se expressar mesmo quando o traço for dominante ou quando for recessivo e gene responsável pelo traço estiver presente nos dois cro-mossomos. A penetrância de um mesmo gene varia de indivíduo a indivíduo e pode depender da idade. Mesmo quando o alelo anormal não é expresso (não penetrância), o portador não afetado de um alelo anormal é capaz de transmiti-lo para os descendentes, que podem manifestar a anormalidade clínica. Nesses casos, o heredograma parece saltar uma geração. Entretanto, alguns casos de aparente não penetrância decorrem da ausência de familiaridade do examinador ou de sua incapacidade de reconhecer manifestações leves da doença. Os casos com expressão mínima são às vezes denominados “formas frustras” da doença.

A expressividade é a extensão com a qual o gene é expresso em um indivíduo. Pode ser graduada como porcentagem, p. ex., quando um gene apresenta 50% de expressividade, apenas metade das características está presente ou a gravidade é de apenas metade da que poderia ocorrer com a expressão completa. A expressividade pode ser influenciada pelo ambiente e por outros genes, assim os indivíduos com o mesmo gene podem ter fenótipos variados. A expressividade pode variar mesmo entre os membros de uma mesma família.

 

Penetrância e expressividade


Um traço que se manifesta apenas em um sexo é denominado de limitado ao sexo.

Penetrância e expressividade. Penetrância refere-se à expressão ou não de um gene, isto é, quantas pessoas com um gene apresentam o traço associado ao gene. A penetrância pode ser completa (100%) ou incompleta (p. ex., 50% quando apenas metade dos indivíduos apresenta o traço).



Expressividade determina o quanto o traço afeta ou quantas características do traço aparecem no indivíduo. Expressão, que pode ser estabelecida em porcentagem, varia de completa a mínima ou pode não estar presente. Vários fatores, incluindo constituição genética, exposição a substâncias lesivas, outras influências ambientais e idade podem afetar a expressividade.

Tanto a penetrância como a expressividade podem variar: indivíduos com o gene podem ou não apresentar o traço e em indivíduos com o traço, a forma de expressão do traço pode variar.

 


 

Herança limitada ao sexo

Um caractere que só aparece em um sexo é chamado de limitado ao sexo. A herança limitada ao sexo difere da herança ligada ao X, que se refere a traços contidos no cromossomo X. Herança limitada ao sexo, talvez mais corretamente denominada herança influenciada pelo sexo, refere-se a casos especiais, nos quais os hormônios sexuais e outras diferenças fisiológicas entre homens e mulheres alteram a expressividade e a penetrância de um gene. Por exemplo, a calvície prematura (conhecida como calvície de padrão masculino) é um traço autossômico dominante, mas presumivelmente, em decorrência dos hormônios sexuais femininos, a calvície raramente é encontrada em mulheres e nesse caso apenas após a menopausa.

 

Imprinting genômico

O imprinting genômico é a expressão diferencial do material genético dependendo de a herança ter sido do pai ou da mãe. Para a maioria dos autossômicos, ambos alelos maternos e paternos são expressos. Entretanto, em < 1% dos alelos, a expressão é possível apenas de um alelo paterno ou materno. Por exemplo, a expressão do gene para o fator de crescimento semelhante à insulina 2 é normalmente expressa apenas do alelo paterno.

O imprinting genômico é geralmente determinado pelos efeitos que ocorrem normalmente no desenvolvimento dos gametas. Alterações como metilação do DNA podem causar graus diferentes de expressão de certos alelos maternos e paternos. Uma doença pode parecer pular uma geração se o imprinting genômico impedir o alelo causador de ser expresso. O imprinting defeituoso, com ativação anormal ou silenciamento de alelos pode resultar em doenças (p. ex., síndrome de Prader-Willi, síndrome de Angelman).

 

Codominância

Os alelos codominantes são ambos observados. Assim, o fenótipo do heterozigoto é distinto do de cada homozigoto. Por exemplo, se um indivíduo tem um alelo que codifica para o tipo sanguíneo A e um alelo para o tipo sanguíneo B, a pessoa tem ambos os tipos sanguíneos (sangue tipo AB).

 

Inativação cromossômica

Em mulheres, que possuem 2 (ou, com anormalidades cromossômicas sexuais, mais de 2) cromossomos X (exceto nos óvulos), todos menos um dos cromossomos X são inativados; isto é, a maioria dos alelos no cromossomo não se expressa. O cromossomo inativado é determinado aleatoriamente, individualmente, em cada célula no início da vida fetal; às vezes, o cromossomo X materno é inativado e, algumas vezes, é o cromossomo X do pai que é inativado. Às vezes, a maior parte da inativação do cromossomo X vem de um dos pais — o que se chama de inativação distorcida do cromossomo X. De uma ou outra forma, depois que ocorreu a inativação em uma célula, todas as células descendentes dela têm a mesma inativação de X.

Entretanto, alguns alelos do cromossomo X inativo são expressos. Vários desses alelos estão em regiões cromossômicas correspondentes a regiões do cromossomo Y (e assim são denominadas regiões pseudoautossômicas porque tanto homens como mulheres recebem 2 cópias dessas regiões).

 

Pontos-chave

 

·         Se um heredograma parecer ignorar uma geração, considerar penetrância incompleta, expressão incompleta e imprinting genômico (menos provável).

 

·         A expressão do gene também pode ser modificada por herança limitada ao sexo, imprinting genômico, codominância dos alelos e inativação do cromossomo X.

 

 


PLEIOTROPIA

 

pleiotropia é um processo em que um único par de alelos (formas alternativas de um determinado gene) atua na manifestação de diversas características. Ela se difere da interação gênica pelo fato de a interação apresentar vários genes determinando uma única característica. Como exemplos de pleiotropia na espécie humana, podemos citar a fenilcetonúria, uma condição que impede o organismo de processar o aminoácido fenilalanina, e a anemia falciforme, uma alteração anatômica dos glóbulos vermelhos do sangue.

 

O que é a pleiotropia?

A pleiotropia é um fenômeno no qual apenas um par de alelos condiciona o aparecimento de duas ou mais características. Ela pode provocar também o surgimento de uma característica primária e esta desencadear uma série de outras características. Esse fenômeno é bastante frequente e ocorre em vários casos de herança genética.

A pleiotropia ocorre quando um par de alelos condiciona o surgimento de diversas características.

 

Exemplos de pleiotropia

Podemos observar exemplos da ação pleiotrópica nos diversos organismos, como plantas e animais, inclusive na espécie humana. Em plantas, um exemplo de pleiotropia pode ser observado em duas variedades de cebolas, brancas e vermelhas, sendo as cebolas vermelhas produtoras de substâncias que as tornam resistentes ao ataque de um fungo parasita. A cor vermelha e a produção dessas substâncias são determinadas por um único gene, sendo, portanto, um caso de pleiotropia.

Na espécie humana, podemos citar a fenilcetonúria e a anemia falciforme como exemplos de pleiotropia.

 

·         Fenilcetonúria

A fenilcetonúria é uma condição decorrente da alteração em um gene que provoca um erro na codificação da enzima fenilalanina hidroxidase, resultando na sua ausência ou deficiência. Essa enzima é responsável por transformar o aminoácido fenilalanina, obtido por meio da alimentação, em tirosina. A ausência ou deficiência dessa enzima acaba impedindo que o organismo processe o aminoácido fenilalanina, e este se acumula no organismo, desencadeando diversos problemas, principalmente no sistema nervoso.

O diagnóstico é feito por meio do teste do pezinho nos primeiros dias de vida, e seu tratamento deve ser iniciado imediatamente, pois, sem o tratamento, podem surgir problemas como microcefalia, convulsões, retardo mental, hiperatividade, lesões cutâneas, alterações nos movimentos de braços e pernas, entre outros.

 

·         Anemia falciforme

A anemia falciforme é uma doença causada por uma mutação que leva à substituição de um aminoácido, o ácido glutâmico, por outro, uma valina, na posição 6 da cadeia beta, desencadeando assim uma alteração na molécula da hemoglobina. Essa alteração na hemoglobina, denominada de hemoglobina S, pode desencadear uma série de problemas para o organismo.

Nos indivíduos portadores dessa alteração, as hemácias apresentam uma forma de foice ou meia-lua, e não arredondada, o que dificulta a sua passagem através dos vasos sanguíneos, ocasionando a sua obstrução e afetando a oxigenação dos tecidos, o que causa muitas dores e lesões em órgãos.

O portador dessa doença recebe um gene alterado do pai e um da mãe. Um indivíduo que recebe apenas um gene alterado apresenta o traço falciforme, mas não desenvolve a doença, entretanto esse gene alterado pode ser transmitido aos seus descendentes.

O diagnóstico é realizado por meio de exames específicos, no entanto, no teste do pezinho, a presença da hemoglobina S pode ser detectada. Os portadores da anemia falciforme precisam de acompanhamento médico constante. A cura da doença pode acontecer por meio de transplante de medula óssea. Saiba mais a respeito acessando: Anemia falciforme

Os portadores da anemia falciforme apresentam hemácias em forma de foice, o que dificulta a sua passagem através dos vasos sanguíneos.

Pleiotropia e interação gênica

A pleiotropia e a interação gênica são fenômenos diferentes. Enquanto na pleiotropia apenas um gene afeta diversas características, na interação gênica diversos genes interagem condicionando uma única característica. Existem diversas formas de interação gênica, como a epistasia, em que um gene inibe a ação de outro, e a herança complementar, em que os genes complementam a ação do outro na determinação de uma característica, originando um fenótipo diferente do que seria criado se cada par atuasse separadamente.

ALELOS LETAIS

Os alelos letais, como o próprio nome indica, podem ocasionar a morte do seu portador.

O DNA pode conter genes que desencadeiam a morte de seu portador

 

Alguns alelos, formas alternativas de um mesmo gene, causam a morte de seus portadores e, por isso, são chamados de letais. Os alelos letais podem ser completos, quando matam seus portadores antes da idade reprodutiva, ou semiletais, quando os portadores sobrevivem além da idade reprodutiva.

 

→ Como os alelos letais foram descobertos?

Os alelos letais, como muitas informações importantes das ciências, foram descobertos ao acaso. Um geneticista, Lucien Cuenot, estudava a cor da pelagem em camundongos em 1904 quando percebeu que era impossível conseguir linhagem pura desses animais com fenótipo amarelo.

Diante desses resultados, o geneticista resolveu realizar alguns cruzamentos-teste. Nesses cruzamentos, ele utilizou dois indivíduos amarelos, e o resultado sempre era 2/3 de camundongos amarelos e 1/3 de camundongos cinza.

Ao observar a proporção de 2:1, Cuenot percebeu que indivíduos homozigóticos para a pelagem amarela não se desenvolviam e que o alelo condicionante provavelmente era letal. Sendo assim, todo camundongo amarelo deveria ser obrigatoriamente heterozigoto.

Para ter certeza de sua descoberta, o geneticista resolveu testar sua hipótese. Para isso, cruzou um camundongo amarelo com um camundongo cinza e obteve metade dos descendentes amarelos e a outra metade cinza. Esse resultado confirmou, então, sua teoria.

 

→ Exemplos de alelos letais

Existem diversos casos de alelos que, em homozigose, causam a morte do indivíduo, inclusive na espécie humana. Um desses alelos é responsável pela Tay-Sachs, isto é, uma doença neurodegenerativa que provoca degeneração física e mental intensa e normalmente ocasiona a morte do indivíduo antes dos cinco anos de vida.

Além da doença de Tay-Sachs, a acondroplasia também é um exemplo de problema desencadeado por um alelo letal. Se os alelos para acondroplasia, que são dominantes, aparecerem em homozigose, o embrião morrerá antes mesmo do nascimento. Se o alelo aparecer em dose simples, ocorrerá o nanismo.

Podemos citar ainda a fibrose cística, que é causada por um gene autossômico recessivo. O gene causador dessa doença afeta as glândulas exócrinas, o que desencadeia problemas na produção de secreções, que se tornam espessas e apresentam-se em maior quantidade, afetando o desenvolvimento de alguns órgãos, como os pulmões.

Podemos citar ainda casos de genes letais que ocorrem em outros organismos, como é o caso de plantas. No milho, por exemplo, podem nascer plantas homozigóticas recessivas completamente desprovidas de clorofila. Sem esse pigmento, as plantas não realizam fotossíntese e, consequentemente, morrem.

 

INTERAÇÃO GÊNICA

interação gênica ocorre quando dois ou mais genes interagem, colaborando, assim, para o surgimento de determinada característica. Essas interações mostram que a determinação de um fenótipo (característica observável resultada da expressão de genes, sendo influenciada também por fatores ambientais) é um processo complexo, podendo envolver diversos pares de genes.

epistasia, a herança complementar e a herança quantitativa são exemplos de interações gênicas. Um outro tipo de herança é a pleiotropia, e ela se diferencia da interação gênica pelo fato de apenas um par de genes condicionar mais de uma característica.

Na interação gênica, dois ou mais genes atuam para condicionar uma determinada característica. O tom de pele é determinado pela interação gênica.

Tipos de interação gênica

Como dito, a interação gênica ocorre quando dois ou mais genes colaboram para o surgimento de determinada característica. A seguir, apresentamos alguns exemplos desse tipo de herança.

 

Epistasia

Na epistasia, um gene presente em um locus (local onde um gene está localizado no cromossomo) inibirá a ação de um gene presente em outro locusO gene que inibe a ação de outro é denominado epistático, que pode ser tanto dominante quanto recessivo. O gene que tem sua ação inibida é denominado hipostático. Um exemplo de epistasia é a determinação da cor das penas de galinhas.

 

As aves da raça Leghorn apresentam dois pares de genes, sendo um condicionante de penas coloridas e (C) e o outro inibidor desse gene (I). O gene C, nesse caso, é denominado hipostático, e o I, epistático. Já as aves da raça Wyanddotte apresentam dois pares de genes recessivos e apresentam a plumagem branca.

Ao cruzar galos Leghorn homozigotos (IICC) e galinhas Wyandotte (iicc), teremos uma primeira geração de filhos (F1) apresentando apenas plumagem branca (IiCc), como podemos ver a seguir:

Geração Parental (P): Galo Leghorn homozigoto x Galinha Wyandotte

(IICC) (iicc)

Genótipos: IC ic

F1: IiCc

100% de aves brancas


Cruzando-se os indivíduos de F1 entre si, obteremos uma segunda geração de filhos (F2) constituída por aves apresentando pelagem branca e colorida, numa proporção de 13:3, como veremos no cruzamento a seguir:

Genótipos

IC

Ic

iC

ic

IC

IICC

IICc

IiCC

IiCc

Ic

IICc

IIcc

IiCc

Iicc

iC

IcCC

IiCc

iiCC

iiCc

ic

IiCc

Iicc

iiCc

iicc


Com o cruzamento anterior, obteremos uma F2 apresentando os seguintes 
genótipos (conjunto de genes de um indivíduo) e fenótipos:

Genótipo

Fenótipo

I_C_

 

Penugem branca

I_cc

iicc

iiC_

Penugem colorida


Assim, a F2 terá uma proporção de 13 aves brancas (9 I_C_, 3 I_cc e 1 iicc) para três aves coloridas(iiC_).

 

Herança complementar

Na herança complementar, os genes complementarão os efeitos produzidos por cada par envolvido na manifestação de determinada característica, dando origem a um fenótipo diferente do que seria originado se cada par atuasse separadamente. Um exemplo de herança complementar é o que ocorre com a flor-da-ervilha-de-cheiro.

As flores podem apresentar-se na cor púrpura ou branca, essa característica é condicionada por dois pares de genes representados pelas letras P e C. Para que as flores apresentem cor, é necessária a presença dos alelos dominantes dos dois pares de genes condicionantes dessa característica (P_C_). Na ausência de, ao menos, um desses alelos dominantes, a flor será branca.
 

Genótipo

Fenótipo

P_cc

 

Flor branca

ppC_

ppcc

P_C_

Flor colorida

 


Cruzando dois heterozigotos, PpCc x PpCc, obteremos o seguinte resultado apresentado neste quadro:

Genótipos

PC

Pc

pC

pc

PC

PPCC

PPCc

PpCC

PpCc

Pc

PPCc

PPcc

PpCc

Ppcc

pC

PpCC

PpCc

ppCC

ppCc

pc

PpCc

Ppcc

ppCc

ppcc


Assim, a F2 terá uma proporção de nove plantas coloridas (P_C_) para sete plantas brancas (3 P_cc, 3 ppC_ e 1 ppcc).

 

3.      Herança quantitativa

Esse tipo de interação gênica é também conhecido como poligenia, polimeria, herança aditiva ou herança multifatorial. Nesse tipo de herança, serão apresentados caracteres de variação contínua, com fenótipos intermediários entre os fenótipos extremos. Um exemplo de herança quantitativa é a cor da pele humana.

A cor da pele é determinada pela quantidade de melanina (pigmento que dá cor à pele) produzida. Para explicar como ocorre essa produção de melanina, vamos admitir, de forma hipotética, que ela esteja condicionada a dois pares de genes representados pelas letras A e B.

Imaginemos que cada um dos alelos dominantes (A e B) contribua com o acréscimo de uma mesma quantidade de melanina, sendo chamados de alelos acrescentadores ou aditivos. Já os alelos recessivos (a e b) não contribuem com o acréscimo de melanina ao fenótipo do indivíduo. Assim, quanto maior a quantidade de alelos aditivos, mais escuro o tom de pele. Diante disso, observemos as diferentes tonalidades de pele produzidas:

Genótipos

Fenótipos

AABB

Pele preta

AABb ou AaBB

Pele escura

Aabb, aaBB ou AaBb

Pele média

Aabb ou aaBb

Pele clara

aabb

Pele branca (não albina)

 

É importante destacar que os genes envolvidos na determinação da cor da pele são mais que dois, assim, os fenótipos são mais do que os apresentados no quadro anterior. Além disso, o tom da pele também sofre influência ambiental, sendo influenciada pela exposição aos raios ultravioletas do Sol.

 

Interação gênica e pleiotropia

Enquanto a interação gênica ocorre pela colaboração de dois ou mais genes para o surgimento de uma determinada característica, a pleiotropia atua de forma inversa. Nela diversas características são condicionadas com base em um único gene.

Um exemplo de pleiotropia pode ser observado na espécie humana. O mesmo gene que determina a esclerótida azulada, ou seja, um afinamento da esclerótida ou esclera (camada opaca e densa que reveste o olho, popularmente chamada de “branco do olho”) que permite a visualização da coroide subjacente (camada presente entre a esclera e a retina no olho), é o que causa a fragilidade óssea.

 

 

 

 

Exercícios resolvidos

Questão 1 - (PUC-Campinas/2015) Em certa planta, a cor das flores é condicionada por dois pares de alelos com segregação independente. A determina cor vermelha e seu alelo recessivo a determina cor amarela. C inibe a manifestação da cor, determinando flores brancas, e é dominante sobre seu alelo c, que permite a manifestação da cor. Espera-se que a proporção fenotípica da descendência do cruzamento entre plantas Aa Cc seja

a) 12 brancas: 3 vermelhas: 1 amarela.

b) 12 vermelhas: 3 brancas: 1 amarela.

c) 9 brancas: 5 vermelhas: 2 amarelas.

d) 9 vermelhas: 3 amarelas: 4 brancas.

e) 9 brancas: 3 vermelhas: 4 amarelas.

 

Resolução

Alternativa A. Plantas AaCc produzirão os seguintes genótipos: AC, Ac, aC e ac. Assim, observemos o cruzamento no quadro:

Genótipos

AC

Ac

aC

ac

AC

AACC

AACc

AaCC

AaCc

Ac

AACc

AAcc

AaCc

Aacc

aC

AaCC

AaCc

aaCC

aaCc

ac

AaCc

Aacc

aaCc

aacc


De acordo com o cruzamento, teremos 12 flores brancas (A_C_, aaC_), três flores vermelhas (A_cc) e uma flor amarela (aacc).

Questão 2 - (Unioeste) Em abóboras, a cor do fruto é determinada por dois genes de segregação independente: os genótipos CC e Cc produzem frutos brancos, enquanto cc é necessário para produção de fruto colorido, cuja cor é determinada pelo segundo gene: cor amarela (VV e Vv) ou verde (vv). Do cruzamento de duas plantas brancas, heterozigotas para os dois loci, CcVv, serão produzidas

a) 12/16 de plantas com frutos coloridos.

b) 1/16 de plantas com frutos amarelos.

c) 3/4 de plantas com frutos brancos.

d) 3/16 de plantas com frutos verdes.

e) apenas plantas com frutos brancos.

 

Resolução

Alternativa C. Abóboras CcVv produzirão os seguintes genótipos: CV, Cv, cV e cv. Assim, observemos o cruzamento no quadro:

Genótipos

CV

Cv

cV

cv

CV

CCVV

CCVV

CcVV

CcVv

Cv

CCVv

CCvv

CcVv

Ccvv

cV

CcVV

CcVv

ccVV

ccVv

cv

CcVv

Ccvv

ccVv

ccvv

De acordo com o cruzamento, teremos 12 frutos brancos ou ¾ de plantas de frutos brancos (C_V_ ou C_vv), três frutos amarelos ou 3/16 de plantas de frutos amarelos (cc V_), e um fruto verde ou 1/16 de plantas de frutos verdes (ccvv)

Herança quantitativa.

A herança quantitativa ou poligênica é um tipo de interação gênica. Ocorre quando dois ou mais pares de alelos somam ou acumulam seus efeitos, produzindo uma série de fenótipos diferentes entre si.

As características podem ainda sofrer a ação de fatores do ambiente, o que aumenta a variação fenotípica.

Na herança quantitativa, o número de fenótipos encontrados depende do número de alelos envolvidos. A quantidade de fenótipos segue esta expressão: número de alelos + 1.

 

Exemplo: Se houver 4 alelos envolvidos, originam-se 5 fenótipos; Se houver 6 alelos, originam-se 7 fenótipos. E, assim por diante.

 

São exemplos de herança quantitativa, as características de altura, peso e cor da pele e olhos de humanos.

 

Herança da cor da pele na espécie humana

A cor da pele de humanos segue o padrão da herança quantitativa, em que os alelos de cada gene somam seus efeitos.

A cor da pele classifica as pessoas em cinco fenótipos básicos: negro, mulato escuro, mulato médio, mulato claro e branco.

Esses fenótipos são controlados por dois pares de alelos (Aa e Bb).

Os alelos maiúsculos (AB) condicionam a produção de grande quantidade de melanina. Os alelos minúsculos (ab) são menos ativos na produção de melanina.

 

Conforme a interação entre esses quatro genes, localizados em cromossomos homólogos diferentes, temos os seguintes genótipos e fenótipos:

 

Genótipos

Fenótipos

AABB

Negro

AABb ou AaBB

Mulato escuro

AAbb, aaBB ou AaBb

Mulato médio

Aabb ou aaBb

Mulato claro

aabb

Branco

 

A cor dos olhos de humanos também segue o padrão da herança quantitativa. As diferentes cores dos olhos são produzidas devido a diferentes quantidades de melanina.

Uma variedade de genes influenciam na produção de melanina e, consequentemente, na coloração dos olhos.

 

O que diferencia a herança quantitativa das demais heranças genéticas?

 

·         Variação gradual do fenótipo:

Usando como exemplo a cor da pele, existem dois fenótipos extremos: o branco e o negro. Entretanto, entre esses dois extremos existem diversos fenótipos intermediários.

 

·         Distribuição dos fenótipos em curva normal ou de Gauss:

Os fenótipos extremos são encontrados em menor quantidade. Enquanto que os fenótipos intermediários são observados com mais frequência. Esse padrão de distribuição estabelece uma curva normal, chamada de curva de Gauss.


Exercícios

1. (FEPECS-DF) A quantidade de pigmento na pele humana pode aumentar sob a ação dos raios solares. A herança da cor da pele humana parece ser determinada no mínimo por dois pares de alelos,cada um localizado em diferentes pares de cromossomos homólogos. Supondo-se que a herança da cor da pele humana seja determinada por apenas dois pares de alelos, a probabilidade de um casal, ele mulato médio filho de mãe branca, ela mulata clara, terem uma criança do sexo masculino e branco é:

a)     1/32
b) 1/16
c) 1/8
d) 1/4
e) ½

2. (UCS) A cor da pele humana depende de pelo menos dois pares de alelos, localizados em cromossomos homólogos. A interação gênica que determina a cor é denominada __________. Entretanto, a cor da pele pode sofrer variações influenciadas pelo ambiente, pois as pessoas que tomam banho de sol ficam bronzeadas, isto é, ficam com cor mais escura devido ao aumento do pigmento chamado ___________.

Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente as lacunas acima.

a) herança quantitativa – melanina
b) pleiotropia – serotonina
c) dominância incompleta – eritrocruerina
d) epistasia – serotonina
e) dominância completa – melanina

 

3. (PUC) A cor da íris dos olhos na espécie humana é uma HERANÇA QUANTITATIVA determinada por diferentes pares de alelos. Nesse tipo de herança, cada alelo efetivo, representado por letras maiúsculas (N B), adiciona um mesmo grau de intensidade ao fenótipo. Alelos representados por letras minúsculas (n b) são inefetivos.

Um outro gene alelo com segregação independente dos outros dois alelos mencionados é necessário para a produção de melanina e consequente efetividade dos alelos B. Indivíduos aa são albinos e não depositam pigmentos de melanina na íris.

De acordo com as informações dadas, é INCORRETO afirmar:

a) Todos os descendentes de pais homozigotos para todos os genes deverão apresentar o mesmo genótipo, mesmo que este seja diferente daquele apresentado pelos pais.
b) Considerando-se apenas os dois pares de alelos aditivos, são possíveis vários genótipos, mas apenas cinco fenótipos.
c) A não-ocorrência de cruzamentos preferenciais em uma população não albina, cuja frequência de alelos seja igual, favorece um maior percentual de descendentes com fenótipo intermediário.
d) O cruzamento de indivíduos NnBbAa com nnbbaa pode produzir oito fenótipos diferentes.

 

4. (UECE) Sabendo-se que a altura humana é determinada por genes aditivos e supondo-se que 3 (três) pares de alelos efetivos determinam o fenótipo alto de 1,95m; que as classes de altura variam de 5 em 5cm; que o fenótipo baixo é determinado pelos mesmos 3 (três) pares de alelos não efetivos, realizando-se o cruzamento entre tri-híbridos espera-se encontrar, na classe de 1,85m uma proporção fenotípica de:

a) 3/32;
b) 15/64;
c) 5/16;
d) 1/64.

 ANEXO EM PDF : Variações Mendelianas de Herança: O modelo básico de Mendel

 

 


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